sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A UM AUSENTE


Escrevi ontem sobre os amigos que deixei para trás e da maneira como o fiz, escrevi também como me senti quando fui "abandonada". Como não poderei postar o texto hoje, já que ficou em Laranjal e estou em Macapá, escolhi as palavras de Carlos Drummond de Andrade, onde ele fala mais ou menos sobre o mesmo assunto. Sabe quando o coração precisa gritar? Sabe quando é extremamente necessário tocar na ferida? Então... Espero que você goste deste maravilhoso poema e volte na segunda para conferir o texto... derepente, te devo um pedido de perdão. Beijos da Feia.

A UM AUSENTE
Carlos Drummond de Andrade


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


Um comentário:

Unknown disse...

Nossa muito bom mesmo... Adorei seu blog, muito gostoso e divertido de se ler...