segunda-feira, 18 de maio de 2009

Gritos da dor

Há Tempestade à Vista - Fotografia de Hugo Tinoco
De quinta para sexta feira, dia 14, tive um dos piores dias aqui no Jari. Saí do Fórum às 22:30h, aliás,tenho passado muito tempo lá dentro. Então... quando saí e estava passando nos fundos do hospital, em frente ao necrotério, ouvi gritos... não eram gritos comuns..eram pavorosos gritos de mulher, ainda estavam longe. Parei. Esperei. Os gritos que ouvia ao longe foram se aproximando. Mais perto e mais perto. Ficaram tão próximos que pude entender do que se tratava: Era uma mãe que dizia: “... me deixa entrar, quero ter certeza que ele não tá aí... Fala que não é meu filho que tá aí... Abre essa porta!!" Ouvia vozes de homens, mas as vozes e o que elas diziam eram abafadas pela voz da “agonizante mulher”. Nesse momento, dei cinco passos e fiquei em frente ao portão do necrotério, na verdade, portão dos fundos. Senti que as lágrimas estava se formando em meus olhos...como agora. Pensei: Ai meu Deus...tomara que não seja o filho dela! De repente, ouvi a porta se abrir e então, eu já chorando, o pior aconteceu: era o filho dela. Ela gritava desesperadamente: “Filho... filhinho o que fizeram com você?? Levanta meu filho! Eu vim te buscar. Vem... Levanta daí!! Os gritos eram lancinantes. Horripilantes. Se eu não soubesse do que se tratava, poderia jurar que aquela mulher estava sendo torturada, tendo pedaços seus arrancados e suas carnes dilasceradas, tamanho era o desespero, tamanha a dor que eu sentia naquela voz! Eu já estava soluçando e mil coisas passavam na minha cabeça de "feia"... pensei: Deve ser um daqueles adolescentes que vemos todos os dias no fórum. Meninos quase adultos que se envolvem com gangues, com drogas, cobram pedágio na passarela, brigam armados de “terçado” com membros de outras facções, mas e daí? Naquele momento, pouco me importava quem era aquele menino, adolescente ou adulto e como ele tinha morrido ou o que tinha feito em vida. Concentrei-me única e exclusivamente no sofrimento daquela mulher, mãe como eu, como muitas que estarão lendo esse texto, mães como Maria, que somente depois que parimos, conseguimos avaliar com alguma pequena margem de precisão o sofrimento dela em ver o seu amado filhinho humilhado e pendurado na cruz. Eu não conseguia me controlar, soluçava, tremia e pensava: meu Deus... coitada dessa mulher. Pra mim chegava. Comecei a andar vagarosamente, pernas bambas, coração apertadoa, procurei ajuda pelo celular para acalmar-me, busquei, notícias dos filhos, falei com Deus. Não conseguia dormir, tudo aquilo estava gritando dentro da minha cabeça. Fui obrigada a induzir o sono. Olhos inchados, abatida e triste... muito triste, foi assim que apareci sexta-feira no trabalho. Quando cheguei, o golpe foi maior: só então soube que o ‘morto’ pelo qual a mãe tanto clamava, era seu menininho de apenas 07 anos. Seu único filho. Arrasada?? Muito. E assim estou até agora!

Recebi o comentário da Adryana e por "inexperiência" deletei. Publico aqui na íntegra e já agradeço pela colaboração... que é muito importante. Sinto muito querida pelo ocorrido na sua família. Te juro que sinto mesmo!
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adryana deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Gritos da dor":

Adryana disse: "...ja vivi algo parecido , nao com um filho mas com uma irma 16 anos mas nova que eu( na epoca ela tinha 12)nao da para comprehender nem explicar, o nosso chao cai, e no meu caso mudou toda a estrutura da familia. fico sem palavras. so sei que graças aos orgaos de minha irma 4 criancas foram transplantadas rins, figado e cornea. a nossa perda deve ter dado muita alegria e em algum lugar desse mundo.(ela faleceu na europa) um pedaço de minha irma ainda vive por ai ..... "

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